A ARTE DOS JOGOS ELETRONICOS
O
que faz de um jogo uma obra de arte?
Tudo pode ser posto abaixo com uma
simples frase. Como dito anteriormente, trata-se de algo muito pessoal. Se,
para mim, o game artístico é exatamente aquele que se expressa por meio de sua
linguagem, para outra pessoa pode ser simplesmente uma recriação perfeita da
realidade — como uma pintura de paisagem.
Por isso, a melhor forma de tentar
entender os video games como a 10ª arte é exatamente procurar a forma com que o
artista tentou criar o diálogo por meio da jogabilidade como um todo — se é que
ele fez isso em algum momento. Por mais bonito e majestoso que um jogo seja,
ele pode não conter valor cultural algum se não passar de uma simples réplica
cinematográfica.
"A História dos
Jogos" :
Desde os mais remotos tempos,
quando a espécie humana surgiu no planeta, nasceu junto a ela uma necessidade
vital para seu crescimento intelectual: jogar.
Manuscritos milenares falam de
jogos praticados em todas as regiões do planeta. Dificilmente se poderá
delinear exatamente qual foi o primeiro jogo surgido no mundo. Adeptos da
teoria Darwiniana afirmam que foi um jogo chamado de Jogo da Evolução,
praticado pelos Neanderdhal. Consta que era um jogo bem simples e rude, jogado
com um grande osso. Marcava-se pontos destroçando a cabeça dos adversários e
com isso conseguindo o domínio de territórios.
Outra escola de pesquisadores, de
doutrina religiosa, discordam deste fato e afirmam veementemente que o primeiro
jogo foi inventado por Adão. Obviamente era um jogo para um só jogador. Segundo
dizem, Adão juntava pedrinhas a as separava por cores. Então observava os
pássaros que voavam e separava uma pedrinha para cada cor que via nas belas
aves. Quando um dos montinhos se esgotava, ele recomeçava o processo. Desejoso
de maiores desafios, clamou por uma companhia, chegando mesmo a fazer o esboço
de um tabuleiro para dois jogadores, que ficariam de costas um para o outro,
cada qual cobrindo visualmente um lado e anotando as cores. Seu pedido foi
atendido, mas aí o mundo dos jogos sofreu seu primeiro grande impacto negativo.
A companheira de Adão, Eva (que por uma ironia incrível do destino foi
homenageada tendo seu nome sido colocado em um material muito bom para
construção de jogos de tabuleiro), enjoou logo daquele jogo. Começaram então os
problemas, que segundo dizem, são a base de todo o sofrimento dos dias atuais.
Observando mais atentamente sua nova companheira, Adão imaginou-a como um
grande e sinuoso tabuleiro e tratou então de procurar alguma peça que pudesse
ser utilizada neste novo jogo, esquecendo-se por completo de seu jogo original.
Com o passar dos tempos, vieram dois filhos e como eram muito pirracentos, o
jovem casal resolveu fazer um jogo que pudesse ocupar o tempo ocioso dos
garotos. Criaram um jogo chamado Traição. Cada um dos garotos devia carregar uma
sacolinha com frutas maduras e tentar acertar o oponente, sempre pelas costas.
Ao final do dia quem acertasse mais vezes ganhava. Tudo corria bem até que um
dia Caim, entusiasmado com uma nova fruta que descobriu, usou-a para o jogo.
Seu infeliz irmão Abel foi então a primeira vítima conhecida da história da
humanidade a ser abatida por um côco, atirado com maestria por seu irmão. Foi o
segundo grande impacto negativo sofrido pelos jogos. Era apenas o segundo jogo
criado pelo homem e já era o responsável pela morte de um quarto da humanidade.
Este lamentável episódio marcou para sempre todos aqueles que nas gerações
futuras viriam a se dedicar aos jogos de tabuleiro. Ficaram todos
estigmatizados por essa mancha original, sofrendo perseguições, ameaças e muitas
vezes pagando com a própria vida pela ousadia de jogar. Durante muito tempo o
ato de jogar passou a ser praticado apenas pelas castas mais baixas da
humanidade, ainda assim secretamente. Dizem que os escravos de Jó jogavam
Caxangá.
Entre os maiores jogadores da
história da humanidade destacam-se nomes como Joana D'arc (dizem que ela era
fogo!), Rei Arthur (que mandou construir uma mesa redonda enorme apenas para
receber seus amigos para jogar), Teseu (inventor dos jogos de labirinto) e um
dos mais famosos, Galileu Galilei, criador do fantástico jogo Planetas
Dançantes. Em um belo tabuleiro, Lelei (como era chamado por seus colegas de
jogo) desenhou o Sol como centro do universo e os planetas redondos, inclusive
a Terra, girando em torno do astro-rei. Foi o bastante para que os inimigos
mortais dos jogos agissem. Lelei foi pressionado, perseguido, preso e foi
obrigado a confessar publicamente que seu jogo estava errado, que era o Sol que
girava em torno da Terra e não o contrário. Ficou assim proibido de criar novos
jogos. Esta sua atitude acabou por influenciar as mais bizarras criações. Pouco
tempo depois, um fanático adorador de jogos criou um jogo chamado de "U
or" (expressão arábica-filastenesa-céltica sem tradução possível para
nosso idioma). Receoso de ter o mesmo destino de Galileu, tratou de desenhar a
Terra como se fosse plana. Este conceito ainda hoje perdura em jogos
semelhantes a este antigo "U or" e é verdadeiramente incrível que um
conceito tão antigo tenha conseguido sobreviver até os dias atuais. É verdade
porém que diversas tentativas foram feitas para que o planeta fosse
representado em sua forma real. Na Idade Média chegaram a usar a cabeça de
inimigos decapitados para representar a forma terrestre, mas mostraram-se pouco
práticas, porque impediam a visãode todo o tabuleiro e as peças caiam com
facilidade.
A história prossegue com o mundo
dos jogos tendo seus períodos de altos e baixos, ora fazendo grandes nomes, ora
produzindo verdadeiros algozes. Atribui-se a Júlio César a criação de diversos
jogos de estratégia, mas infelizmente este fato não pode ser confirmado, pois
os supostos jogos se queimaram no grande incêndio de Roma.
Um dos jogadores que mais se
popularizaram foi Napoleão Bonaparte. Verdadeiramente trata-se de uma das mais
fantásticas farsas da humanidade, porque Napô (assim chamado pelos seus
íntimos) era um jogador fraudulento, que adorava roubar nos jogos. Ficava
sempre com uma das mãos (a esquerda, segundo dizem) dentro da roupa, escondendo
cartas. Apesar disto, devido ao inegável prestígio político de seus ancestrais,
passou para a história como um grande estrategista e não como o desleal jogador
que era.
Apesar de todas as dificuldades, os
jogos proliferaram pelo mundo e com o advento das grandes navegações as
culturas se encontraram e trocaram informações, tendo sido nesta época criadas
as primeiras empresas de exportação de jogos, passo fundamental para o
crescimento do setor. Livros históricos dão conta de que marinheiros jogavam
diversos tipos de jogos de tabuleiro em suas demoradas viagens rumo ao
desconhecido. Entre eles destacam-se "Andando na prancha" de Othu
Barão; "Fugindo da Peste", de Odhou Tôr e o clássico
"Motim", de Ostrha Ydhor.
Apesar do gravíssimo erro histórico
que atribui a descoberta do Brasil aos portugueses, antigos documentos
encontrados em escavações dão conta de que outros povos já visitavam
regularmente o país, trazendo para cá inúmeros jogos, a maioria ilegais,
começando daí a fama brasileira de pirataria.
Quando Pedro Álvares Cabral chegou
ao Brasil (diga-se de passagem ele só fez a viagem porque perdeu uma partida de
dominó com outros navegantes), encontrou diversos grupos de índios em animadas
reuniões. Eles jogavam uma versão bastante rudimentar de jogo, conhecido na
época como Tirouco. Eram folhas de diferentes tipos e cada folha tinha um
valor, esipulado pelo pajé local. Quando alguém tinha a folha de valor mais
alto, chamada de Zap, gritava feito louco: "- Tirouco, tirouco,
tirouco!". Muitas vezes os jogadores blefavam, fingindo ter uma folha de
alto valor sem tê-la e isso geralmente levava a situações as mais estapafúrdias
possíveis, resultando muitas vezes em brigas e mortes. Dizem que tribos
inteiras foram dizimadas por causa de campeonatos de Tirouco. O jogo, que
muitos dizem ser o precursor do Truco jogado atualmente (o que parece ser
verdade porque os jogadores agem como loucos quando jogam), foi sendo
transmitido de geração para geração e sofrendo variações aqui e ali.
Inegavelmente, apesar da histórica
falta de talentos cerebrais atribuída aos primos lusitanos, foram eles que de
certa forma contribuíram para o enriquecimento do setor de jogos brasileiro,
pelo menos no começo da ocupação de suas novas posses, trazendo para o Brasil
jogos já consagrados no Velho Mundo. Entretanto, com o passar dos tempos, viram
que o hábito de jogar dos brasileiros acabava por atrapalhar o rendimento dos
serviços e consequentemente os lucros. Junte-se a isto o fato de que os
escravos africanos (estes não jogavam Caxangá) adoravam jogos e as senzalas
acabavam por se transformar em verdadeiros cassinos rudimentares. Entre os
jogos preferidos estavam: "Chibatada", "O Tronco" e a
"Grande Fuga", este último criado pelo célebre jogador Zumbi dos
Palmares.
A Coroa Portuguesa decidiu então,
em reunião extraordinária (naturalmente com os membros recebendo jeton para
comparecer), abolir os jogos do Brasil. Este dia infame, que passou a ser
conhecido como o Dia da Abolição, marcou uma das mais negras fases vividas por
todos os que adoravam os jogos. Prisões, torturas, exílios, tudo era feito para
parar o ímpeto dos jogos no país.
Se foi uma fase negra, foi também
uma fase de grandes heróis e mártires, incluindo-se aí o maior mártir da
história dos jogos no Brasil: o grande jogador Joaquim José da Silva Xavier,
conhecido como Tiradentes. Adepto inveterado de jogos de tabuleiro, promovia
reuniões secretas onde faziam campeonatos disputadíssimos de vários jogos. Sua
turma de jogadores incluía poetas, escritores e outros homens ilustres, que
arriscavam a própria vida para jogar. É de Tiradentes o grande jogo
"Conspiração Mineira". Criou também, entre vários outros, "O
Quinto" e o fabuloso "Conjuração". Entretanto, na turma de
Tiradentes existia um jogador que sempre ficava em último lugar nos
campeonatos. Péssimo estrategista e medíocre jogador, Joaquim Silvério dos
Reis, enraivecido por mais uma última colocação no Campeonato de Conspiração
Mineira promovido por Tiradentes, resolve entregá-lo à Coroa Portuguesa. Assim
quis o destino que se demonstrasse a face mais corajosa e valente deste nosso
grande herói. Preso, humilhado e torturado, foi levado Tiradentes à presença do
juiz, que sentenciou-lhe: "-Morrerás se jogares mais um jogo em sua
vida!". Erguendo triunfalmente teu olhar, trazendo no coração o amor a
todos os jogos e munido da mais alta valentia, o grande, o heróico, o magnífico
Tiradentes disse a frase que é, e sempre será por toda a eternidade, o lema
maior dos jogadores brasileiros: "-Se dez jogos eu tivesse, dez jogos eu
jogaria!". Foi cruelmente assassinado, mas deixou plantada para sempre a
promissora semente dos jogos nos corações de seu povo.
Pouco tempo depois, já com a
proibição aos jogos quase chegando ao fim, um simplório agricultor de nome
Filisto Ateneu Lutenio Xerxes, desenvolveu um jogo simples mas que logo caiu
nas graças do povo brasileiro. A purrinha. Utilizava pequenos palitos que
podiam ser facilmente escondidos em caso de necessidade e não precisava de
tabelas, marcadores ou outras peças. O jogo difundiu-se rapidamente e Filisto,
com o fim da proibição, resolveu-se a fabricá-lo em grande escala. Foi o primeiro
jogo fabricado em série no Brasil. O jogo era apresentado em pequenas caixinhas
de madeira e trazia uma média de 40 palitos (podendo portanto ser jogado por
muitos jogadores e ainda sobrando peças de reposição). As caixinhas traziam a
inscrição Fiat Lux, retiradas das iniciais do nome do fabricante. Tão logo
iniciou-se a produção o jogo demonstrou seu fantástico potencial e espalhou-se
rapidamente pelo país e além-mar.
Com o passar do tempo e a morte de
Filisto, seu filho Júnior resolveu utilizar os palitinhos originais para fazer
uma estranha combinação. Colocava um material inflamável na ponta de cada
palito e quando este era passado rapidamente na caixa, acendia-se. A invenção
na prática não servia para nada além de produzir fogo, mas foi o suficiente
para chamar a atenção do povo, que viu naquele simples objeto um brinquedo
diferente. Se foi bom para Júnior, porque o novo brinquedo vendia muito, foi
péssimo para o setor de jogos nacional, já que as peças do jogo original eram
queimadas.
Não podemos deixar de citar também
neste trabalho o Grande D. Pedro I. Conhecido por ser um jogador encrenqueiro,
ainda assim sempre participava das rodadas de jogos, obviamente por causa da
posição política que ocupava. Por ocasião do 1º Campeonato de Jogos de
Tabuleiro dos Opressores Estrangeiros nas Américas, o Brasil, como colônia,
havia sido impedido de participar. D. Pedro, enraivecido, porque por esta época
já estava apaixonado pelo país da purrinha, ordenou aos organizadores que o
Brasil fosse incluído na disputa. Estes, (holandeses e espanhóis), concordaram
com o pedido mas somente se alguém com sangue de opressor estrangeiro
representasse o Brasil. Aclamado pelo povo, D. Pedro não queria jogar, mas
ouvindo tantas súplicas ( e olha que foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão
sofridos, que ele dominou seu asco...) proclamou em alta e viva voz: "-Se
é para o bem geral da nação e de todo o povo brasileiro, eu digo que
jogo!". Este dia, que passou a ser conhecido como o "Dia do
Jogo", ficará para sempre guardado na memória dos jogadores brasileiros,
já existindo inclusive um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional,
que institui esta data como o Dia do Jogo Nacional.
Grandes outros nomes da história
brasileira honraram e trouxeram prestígio ao setor jogabilístico nacional,
porém, mesmo com uma história tão rica, o setor enfrenta graves problemas nos
dias atuais. Uma resistência heróica e corajosa ainda é feita por grupos de
jogadores, destacando-se no cenário nacional o Board Games, responsável pelo
resgate de nossas tradições jogadescas da cultura jogadicional de nosso país e
marcado por uma inovadora visão do futuro. Juntos, estes heróicos brasileiros
lutam por tornar os jogos cada vez melhores e em maior número, procurando
sempre o enriquecimento de tão importante atividade na vida de todo cidadão.
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